Ensaio
avançado
Spectra
projeta e constrói simulador de voo e laboratórios de testes para a indústria
automobilística
Affonso Ferro, Guilherme Gibertoni, Jonas Dourado,
João Boaventura, Aurelio Da Dalt e Amanda Shiokawa
Quem passa em frente ao prédio da
Spectra Tecnologia, localizado em uma rua do Belenzinho, antigo bairro
industrial da zona leste de São Paulo, não desconfia da riqueza tecnológica que
ele guarda. Um dos galpões da empresa, que ocupa uma área de 5.200 metros quadrados,
foi adaptado para acomodar um simulador de voo para helicópteros militares,
construído em parceria com o Centro Tecnológico do Exército (CTEx). O
equipamento criado pela Spectra para treinamento de pilotos reproduz de forma
fiel a cabine dos helicópteros militares Esquilo AS350 e Fennec AS550 e a
insere num ambiente virtual 3D. Todos os instrumentos, comandos, manetes, displays
e até os bancos presentes nele estão dispostos da mesma forma que no cockpit
dessas aeronaves usadas pelo Exército brasileiro.
“Somos a única empresa da América
Latina que detém integralmente o conhecimento tecnológico para o projeto e a
fabricação desse tipo de simulador”, afirma o engenheiro naval Aurélio Da Dalt,
de 61 anos, um dos sócios-diretores da Spectra. “Ele vai complementar o
treinamento de pilotos do Exército com um produto de concepção 100% nacional
que, até então, só estava disponível em outros países, como França e Estados
Unidos.” O projeto para construção do simulador teve início em 2007, em um
contrato com o CTEx e foi concluído em dezembro de 2011. Um ano depois, o
equipamento, batizado de Shefe (Simulador de Helicópteros Esquilo e Fennec),
foi homologado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e, em seguida,
recebeu a certificação FTD4, de preparação inicial de pilotos. O modelo está
atualmente em processo para a homologação como Full flight nível B. Essa
qualificação – que varia, em ordem crescente, de A a D – assegura que durante o
voo simulado o piloto tenha a mesma sensação do voo real, incluindo os movimentos
do helicóptero e suas respostas aos comandos. O equipamento será transferido no
próximo ano para o Centro de Instrução de Aviação do Exército (CIAvEx), em
Taubaté (SP), que está em reforma.
Empresa
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Spectra
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Centro
de PD
|
São
Paulo, SP
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Nº de
funcionários
|
19
|
Principais
produtos
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Equipamentos
para ensaios de durabilidade, peças e sistemas automotivos, simuladores de
helicóptero e de tiro
|
Não foram poucos os obstáculos
para criar esse ambiente virtual. “A empresa desenvolvedora de simuladores
normalmente tem o suporte do fabricante do avião ou do helicóptero a ser
simulado, que fornece o modelo matemático de voo, além de partes e componentes
da aeronave”, explica o engenheiro mecânico João Carlos Boaventura, de 51 anos.
A fabricante nacional das aeronaves, uma empresa do grupo francês Airbus
Helicopters, não quis repassar informações pelo fato de a matriz possuir
estreito relacionamento com fabricantes europeus de simuladores. “Não contamos
com esse apoio e tivemos que projetar tudo do zero. O modelo matemático foi
feito em conjunto com o ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica]”, diz João,
o sócio-diretor da Spectra responsável pelas inovações na área de defesa. O
projeto também teve apoio do Comando de Aviação do Exército (CAvEx) e do
Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) da Aeronáutica.
Outro aspecto envolvendo o
simulador é que o valor previsto inicialmente pelo Exército para construí-lo
mostrou-se insuficiente. Como era do interesse da Spectra a consolidação do
projeto – o que lhe daria capacitação para concorrer com as maiores fabricantes
de simuladores do mundo –, ela usou dinheiro do próprio caixa para finalizar o
Shefe. “O projeto custou R$ 16,8 milhões, mas o contrato com o Exército só
cobriu 44% desse valor. Investimos cerca de R$ 9,5 milhões de recursos
próprios, mas hoje temos um produto com índice de nacionalização de 92%”,
afirma o engenheiro Aurélio, que também é professor do Instituto Mauá de
Tecnologia. Concluído há quatro anos, o Shefe passa por um processo de
modernização, com a implementação de novos softwares. Um dos
profissionais que participam dessa tarefa é a engenheira eletricista Amanda
Shiokawa Freitas, 27 anos. “Esse é um trabalho que envolve muita pesquisa para
que os modelos matemáticos consigam simular os sistemas da aeronave e o
equipamento opere em harmonia, sincronizado e sem atrasos”, diz Amanda, que
iniciou sua carreira na Spectra como estagiária, em 2011.
Equipamento
de teste de carroceria de ônibus
Simulador de tiro
Outro desenvolvimento da Spectra para a área militar é um simulador de tiro para armamentos leves, conhecido pela sigla Stal. O projeto nasceu por não existir um equipamento que atendesse aos requisitos do Exército e fosse produzido por empresa nacional. “O simulador de tiro servirá aos centros de treinamento para uma experiência equivalente ao treino feito em campo. O atirador utiliza réplicas de pistola e fuzil usados pelos militares e interage com alvos e a simulação 3D projetada em uma parede”, explica o cientista da computação Guilherme Simão Gibertoni, de 23 anos.
O benefício desse simulador é
reduzir os custos do Exército porque se deixa de gastar munição e deslocar a
tropa para locais de tiro. Ao mesmo tempo, é um ambiente seguro para os
primeiros testes de tiro de jovens soldados. “A simulação 3D proporciona dinamismo
com a posição e movimento dos alvos”, diz Guilherme.
Produção
de LEDs de alta potência
Criada em 1989, a Spectra é uma
empresa de tecnologia com capital 100% nacional. Ela faturou R$ 12 milhões em
2014 e investe 15% desse valor na área de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Conta atualmente com nove engenheiros, dois tecnólogos, seis técnicos e dois
projetistas ligados ao setor de engenharia, além de 25 funcionários nas áreas
industrial e administrativa. A linha de produtos é diversificada e inclui, além
do simulador para helicópteros, equipamentos servo-hidráulicos para ensaios de
durabilidade de veículos, módulos de eletrônica embarcada para controle da
carroceria de ônibus (o produto foi fornecido por quase uma década a uma
empresa brasileira – mais de 10 mil veículos foram equipados – e, atualmente, é
exportado para o Peru), aquecedores industriais e sistemas de controle de
guinchos de ancoragem para balsas usadas na exploração de petróleo em alto-mar,
sendo a Petrobras cliente desse produto.
“A diversificação faz parte de nossa
estratégia comercial. Quando um setor não está bem, outro compensa. Procuramos
ter o controle de todas as etapas de nossa produção. Dessa forma, temos um
domínio maior sobre a tecnologia que desenvolvemos e sobre o preço dos nossos
produtos”, afirma o engenheiro eletricista Affonso Ferro, 50, que compõe o trio
que comanda os rumos da Spectra.
Simulador
de pilotagem de helicópteros do Exército: interior da cabine…
Laboratório de ensaios
Os equipamentos servo-hidráulicos para ensaios de fadiga e durabilidade de componentes automotivos são o principal produto da Spectra e responderam por 30% do faturamento em 2014. Dotado de atuadores, bombas hidráulicas e um sistema de controle e aquisição de dados, o laboratório de ensaio é usado para testar diferentes peças e sistemas de carros, ônibus e caminhões, como suspensão, freios, amortecedores, caixas de direção e cintos de segurança. “Ele funciona como um simulador, reproduzindo de forma acelerada e muito precisa as condições do veículo em pista”, diz Affonso. “Nosso laboratório é empregado para realização de testes completos de desempenho e ensaios estáticos e dinâmicos para análise de tensões mecânicas, vibrações e fadiga na estrutura do veículo.” Um dos desenvolvedores do laboratório é o engenheiro de computação Jonas Dourado, de 25 anos. “Trabalho no projeto de um software e na criação de um equipamento para realizar testes de durabilidade de peças mecânicas, principalmente automotivas”, diz Jonas.
Os equipamentos servo-hidráulicos para ensaios de fadiga e durabilidade de componentes automotivos são o principal produto da Spectra e responderam por 30% do faturamento em 2014. Dotado de atuadores, bombas hidráulicas e um sistema de controle e aquisição de dados, o laboratório de ensaio é usado para testar diferentes peças e sistemas de carros, ônibus e caminhões, como suspensão, freios, amortecedores, caixas de direção e cintos de segurança. “Ele funciona como um simulador, reproduzindo de forma acelerada e muito precisa as condições do veículo em pista”, diz Affonso. “Nosso laboratório é empregado para realização de testes completos de desempenho e ensaios estáticos e dinâmicos para análise de tensões mecânicas, vibrações e fadiga na estrutura do veículo.” Um dos desenvolvedores do laboratório é o engenheiro de computação Jonas Dourado, de 25 anos. “Trabalho no projeto de um software e na criação de um equipamento para realizar testes de durabilidade de peças mecânicas, principalmente automotivas”, diz Jonas.
Além de vender o laboratório
montado, a Spectra também presta serviço às áreas de engenharia e
desenvolvimento de fabricantes de autopeças e da indústria automobilística.
Volkswagen, Mercedes-Benz, Scania, Ford, Fiat, Magneti Marelli e Mahle são
alguns dos clientes. No ano passado, uma unidade foi exportada para a
Argentina. “A Universidade Nacional de La Plata, a segunda maior do país,
comprou um laboratório por US$ 2 milhões”, informa Aurélio.
… e parte externa
O laboratório de testes, um dos
maiores do gênero em operação no país, está na origem da criação da Spectra. Os
três sócios se conheceram nos anos 1980, quando estavam na Mafersa, uma antiga
fabricante de vagões e materiais ferroviários. Eles trabalhavam num laboratório
de testes de durabilidade – parecido com o que desenvolveriam anos mais tarde
–, cujos equipamentos eram importados da norte-americana Material Test Systems
(MTS). O controle do laboratório era feito por um computador da época, que
tinha o tamanho de um pequeno armário.
Aurélio, João e Affonso tiveram a
ideia de desenvolver o hardware e os softwares necessários para
fazer o microcomputador IBM PC-XT controlar o laboratório. Um dos diretores da
MTS abraçou a ideia e decidiu comprar a inovação quando estava pronta. Segundo
Affonso, a Spectra foi a primeira empresa do mundo a usar um computador tipo PC
para controlar um simulador de estrada. Centenas de sistemas foram vendidas
para montadoras e fabricantes de autopeças mundo afora. “Durante cinco anos,
recebemos royalties pela venda do nosso sistema. Foi isso que nos
permitiu, no início, estruturar financeiramente a Spectra”, conta.
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