Após quase
quatro horas de reunião com Infraestrutura, caminhoneiros descartam ameaça de
greve
Camila Turtelli, Felipe Frazão,
Mariana Haubert e Tânia Monteiro
BRASÍLIA - Com a promessa de que o
governo vai fiscalizar o cumprimento da tabela de preços mínimos para o frete
rodoviário, caminhoneiros descartaram nesta segunda-feira a
ameaça de uma nova paralisação. Cerca de 30 representantes da categoria
estiveram reunidos por quase quatro horas com o ministro da Infraestrutura,
Tarcísio Gomes de Freitas, na sede da pasta em Brasília. Ao deixar o encontro,
eles afirmaram que as bases “foram acalmadas”.
“Não houve um acordo, mas sim um
compromisso de uma agenda positiva”, disse o presidente da Confederação
Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno. Ele disse que os representantes
levaram ao governo algumas questões que não eram de conhecimento das
autoridades e que em troca receberam o compromisso de que a tabela será de fato
fiscalizada. “Esse compromisso deve acalmar as bases e não deve haver
paralisação nesse momento”, disse.
Outra questão que, segundo os
representantes, teria sido fechada pelo governo é a promessa de que a tabela
será reajustada de acordo com as mudanças do preço do diesel. O primeiro
reajuste seria feito até o dia 29, de acordo com as alterações que o valor do
combustível sofreu desde o início do ano. Segundo Bueno, o governo ficou de
calcular de quanto será essa mudança. “A categoria está confiante nesse
governo”, disse.
Um dos líderes da categoria,
Wanderlei Alves, conhecido como Dedeco, afirmou que os próprios caminhoneiros
deverão serem agentes de fiscalização, levando denúncias de empresas que não
estão cumprindo a tabela à CNTA, que por sua vez repassará à Agência Nacional
de Transportes Terrestres (ANTT) e governo. O ministério teria se comprometido
também a retirar multas a motoristas que fizerem as denúncias.
Dedeco que participou da convocação
de uma nova paralisação para o dia 29 de abril pediu que os caminhoneiros “se
acalmem e esperem”.
Confiante
Mais cedo, o porta-voz da Presidência
da República, general Otávio Rêgo Barros, afirmou que o presidente Jair
Bolsonaro não vê risco de uma nova greve geral de caminhoneiros. “Ele (o
presidente) está confiante de que não haverá uma parada por parte dos
caminhoneiros”, disse.
Na semana passada, líderes dos caminhoneiros autônomos, insatisfeitos com o pacote anunciado
pelo governo e com o aumento de 10 centavos no preço do diesel, agendaram uma
paralisação para o dia 29 de abril. "A expectativa do
governo do presidente Jair Bolsonaro, que mantém diuturnamente canal de ligação
aberto com a categoria, é de que não há motivos para essa paralisação",
disse Rêgo Barros.
A avaliação do governo é que o
principal problema dos caminhoneiros é a falta de fretes, já que empresas
começaram a montar a própria frota para burlar a exigência de pagar o preço
mínimo do frete, uma das medidas adotadas pelo ex-presidente Michel Temer para
colocar fim à greve de maio do ano passado, que provocou uma crise de
abastecimento no País.
Segundo o porta-voz, o Gabinete de
Segurança Institucional (GSI) faz acompanhamento cerrado e análises de risco e
há convicção do presidente do “espírito patriótico” dos caminhoneiros.
"Com base nesse espírito patriótico que o presidente, somando-se ao acompanhamento
realizado por outros órgãos do governo, entende que no momento as condições
para estabelecimento dessa parada não se fazem presentes", relatou o
porta-voz.
Ontem, lideranças de diversas regiões
do País estiveram reunidas por mais de três horas com o ministro da
Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. A intenção dos representantes era
cobrar do governo o cumprimento da tabela de preço mínimo do frete, a
fiscalização do dispositivo e também a adoção de um gatilho que atrele
reajustes do diesel ao piso do transporte.
O risco de uma paralisação fez com
que Bolsonaro ligasse ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e
pedisse que suspendesse o reajuste no preço do diesel. No dia, a petroleira
teve perda de R$ 32 bilhões no seu valor de mercado porque o mercado reagiu mal
ao que considerou uma intervenção. Na semana passada, Castelo Branco anunciou
aumento de 0,10 centavos no litro do diesel. Horas antes do anúncio, o Planalto
anunciou uma série de medidas para a categoria, como linha de crédito do BNDES
para manutenção dos veículos e R$ 2 bilhões para manutenção das estradas.
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