Thursday, October 27, 2016

Novas máquinas



Máquina de Ising: Nasce um novo tipo de computador
Redação do Site Inovação Tecnológica -  25/10/2016







 Peter McMahon e Alireza Marandi examinam o protótipo do seu computador a laser - eles fazem parte das duas equipes, japonesa e norte-americana. [Imagem: L.A. Cicero]


Computação de problemas intratáveis
Combinando a tecnologia óptica com a eletrônica, uma equipe dos EUA e outra do Japão, trabalhando de forma colaborativa, construíram dois protótipos de um novo tipo de computador que consegue resolver problemas intratáveis para os computadores tradicionais, incluindo os supercomputadores.

As equipes afirmam que, quando conseguirem criar versões maiores e mais flexíveis desse tipo inteiramente novo de computador, essa forma não-convencional de computação poderá ajudar a encontrar soluções mais próximas do ideal para problemas que têm um número extremamente elevado de soluções possíveis.

"Há muitas, muitas questões que este desenvolvimento levanta e esperamos que, ao longo dos próximos anos, vários grupos investiguem esta classe de máquina e estudem como esta abordagem irá se desenvolver," disse Peter McMahon, da Universidade de Stanford.

A equipe japonesa, que construiu uma máquina idêntica, foi liderada por Takahiro Inagaki, da empresa NTT, em colaboração com pesquisadores da Universidade de Tóquio.

Máquina de Ising
As duas equipes construíram o que se conhece como uma "máquina de Ising", em homenagem ao físico alemão Ernst Ising (1900-1998), que idealizou o modelo matemático do magnetismo. A máquina funciona como uma rede reprogramável de ímãs artificiais, na qual cada ímã aponta apenas para cima ou para baixo, ou norte e sul, como um sistema magnético de verdade.

A teoria é que, se as conexões entre a rede de magnetos puder ser programada para representar o problema em questão, a solução pode ser derivada do estado final da máquina, conforme seus componentes se encaminham naturalmente para o estado de mais baixa energia.

As duas equipes trabalharam com o conhecido problema do caixeiro-viajante, que busca encontrar a melhor rota para um vendedor que precise visitar uma série de cidades. Tipicamente intratável pelos computadores tradicionais, esse tipo de problema é importante porque trata não apenas de encontrar as melhores rotas para vendedores ou entregadores, mas também para descobrir como rotear os pacotes de dados pelas redes de computadores de maneira mais eficiente ou como as proteínas se dobram.


 









Esquema conceitual da Máquina de Ising. [Imagem: Peter L. McMahon et al. - 10.1126/science.aah5178]

Computador de laser
Em vez de usar ímãs em uma grade, os pesquisadores usaram um tipo especial de sistema de laser conhecido como "oscilador paramétrico óptico degenerado". Quando ligado, esse sistema representa os estados para cima ou para baixo dos ímãs, enquanto cada pulso de laser representa a posição de uma cidade no caminho que o vendedor poderia tomar.

Por enquanto, a máquina Ising está bem aquém do poder de processamento dos computadores eletrônicos tradicionais quando se trata de otimização combinatória, mas estes primeiros resultados são promissores.

"Eu acredito que é uma rota entusiasmante de exploração para encontrar computadores alternativos. Ela pode nos levar mais perto de formas mais eficientes de lidar com alguns dos problemas computacionais mais difíceis que temos," disse Alireza Marandi, que faz parte das duas equipes. "Até agora, nós construímos um computador baseado em laser que pode resolver alguns desses problemas, e nós já mostramos alguns resultados promissores."

Barato e fácil de ampliar
Outro aspecto promissor da pesquisa é que praticamente todos os materiais e equipamentos utilizados para construir os dois computadores optoeletrônicos podem ser comprados no comércio porque já são utilizados em telecomunicações.

Em combinação com a simplicidade de programação, isto torna a máquina fácil de escalonar, para resolver problemas mais complexos. As versões atuais são capazes de resolver problemas de 100 variáveis com qualquer conjunto arbitrário de conexões entre as variáveis.
Bibliografia:

A fully-programmable 100-spin coherent Ising machine with all-to-all connections
Peter L. McMahon, Alireza Marandi, Yoshitaka Haribara, Ryan Hamerly, Carsten Langrock, Shuhei Tamate, Takahiro Inagaki, Hiroki Takesue, Shoko Utsunomiya, Kazuyuki Aihara, Robert L. Byer, M. M. Fejer, Hideo Mabuchi, Yoshihisa Yamamoto
Science
DOI: 10.1126/science.aah5178

A coherent Ising machine for 2000-node optimization problems
Takahiro Inagaki, Yoshitaka Haribara, Koji Igarashi, Tomohiro Sonobe, Shuhei Tamate, Toshimori Honjo, Alireza Marandi, Peter L. McMahon, Takeshi Umeki, Koji Enbutsu, Osamu Tadanaga, Hirokazu Takenouchi, Kazuyuki Aihara, Ken-ichi Kawarabayashi, Kyo Inoue, Shoko Utsunomiya, Hiroki Takesue
Science
DOI: 10.1126/science.aah4243

Saturday, October 01, 2016

Autocicatrização amorfa



Cristal emenda pedaços e cicatriza depois de quebrado
Redação do Site Inovação Tecnológica -  30/09/2016




 O cristal cola novamente depois de quebrado - é possível ver a "cicatriz" na parte central do cristal. [Imagem: Patrick Commins/NYU Abu Dhabi]


Cristal
Pesquisadores sintetizaram um pequeno cristal amarelo que, quando quebrado, volta a colar, bastando colocar seus pedaços juntos novamente, sem adição de qualquer produto.

Já foram desenvolvidos vários materiais que se regeneram ou se autoconsertam, mas todos são polímeros ou géis, ou seja, materiais moles - esta é a primeira vez que o autoconserto ocorre em um material cristalino, duro e seco.

E a similaridade com a cicatrização dos materiais biológicos vai além: o cristal cria uma "cicatriz" depois de voltar a se unir.

Autoconserto
Vendo as características que permitem a recolagem dos materiais moles, Patrick Commins e seus colegas da Universidade de Nova Iorque se perguntaram o que aconteceria se eles sintetizassem um material duro que apresentasse a mesma estrutura atômica responsável pela cicatrização dos materiais moles.

Eles chegaram a um composto orgânico à base de enxofre - batizado de dissulfeto de di-pirazol-tiuram - que forma pequenos cristais. Isto porque é a relação entre os átomos de enxofre que dá a propriedade de autoconserto aos polímeros moles - os átomos de enxofre "fluem" em direção uns aos outros, refazendo a conexão que conserta o material.

E, confirmando que os átomos de enxofre são de fato responsáveis pela autocicatrização, a coisa funcionou no cristal. 

"O que acontece quando nós quebramos o cristal é que todos esses [átomos de] enxofre se movimentam, e quando nós pressionamos os pedaços eles reformam suas ligações e o cristal se conserta," contou Commins.

 Os átomos de enxofre "fluem" para a borda quando dois pedaços do cristal se juntam, refazendo a conexão e juntando as duas partes quebradas. [Imagem: Patrick Commins/NYU]

Cristais com cicatrização
O autoconserto é suficiente para que o cristal torne-se uma única peça novamente, restando apenas uma "marca de cicatrização" onde ele havia sido quebrado.

As propriedades mecânicas, contudo, não se restauram por completo: basta uma força de 6,7% da força necessária para quebrar originalmente o cristal para que ele se quebre novamente depois do autoconserto.

"Isto é de fato uma pequena revolução, porque mostra um conceito que até agora não era considerado possível. É a primeira vez que observamos que estruturas rígidas como cristais podem se autoconsertar. Ninguém esperava por isso. É certamente uma mudança no nosso entendimento dos cristais," disse o professor Pance Naumov.
Bibliografia:

Self-Healing Molecular Crystals
Patrick Commins, Hideyuki Hara, Pance Naumov
Angewandte Chemie International Edition
DOI: 10.1002/anie.201606003